domingo, 18 de fevereiro de 2018

Ensino da linguagem digital

"Na nossa sociedade não precisamos explicar por que a matemática é importante. Isso já está convencionado. É diferente da programação", ressalta Tiago Maluta, responsável pelo Programaê!, projeto da Fundação Lemann que, em parceria com o MIT, desde 2014 oferece apoio gratuito a professores das redes pública e privada no Brasil, disponibilizando em seu site planos de aula para ensinar a codificar.
"Usamos um termo mais abrangente que é o pensamento computacional, que envolve raciocínio lógico, trabalho em equipe, resolução de problemas, criatividade", afirma.
"Há uma prática transversal nas disciplinas. Tem um conceito que gostamos de usar, do MIT, que é o programar para aprender. Eu programo para aprender uma disciplina da escola. Tivemos o caso de um professor de educação física que estava usando os elementos de ângulo do Scratch para ensinar seus alunos", conta Maluta.

Programação para crianças faz 50 anos

A história das ferramentas de programação destinadas a crianças é menos recente do que muitos pensam. Neste ano, faz 50 anos que o primeiro projeto educacional do gênero, o Logo, foi lançado nos EUA. Ele se tornou conhecido pela produção de gráficos tartaruga, que consistem em desenhos vetoriais criados por meio de comandos.
A data está sendo lembrada pela ilustração do Google, o Doodle, com uma animação inspirada na linguagem Logo, o que já fez o termo "linguagens de programação para crianças" saltar para o topo das buscas da ferramenta.
A BBC Brasil colabora com sua busca reunindo sugestões no Brasil e no mundo de como apresentar os pequenos à programação.

Livros

Com Code Babies, o web designer nova-iorquino John Vanden-Heuvel fez um livro de abas com muitas cores e símbolos usados na programação para que seu filho recém-nascido se familiarizasse com esses padrões.
Assim, surgiu uma série que inclui títulos como HTML for BabiesCSS for BabiesJavaScript for BabiesWeb Design for Babies e Web Colors. A linguagem visual também é utilizada em livros para crianças maiores, como C++ for KidsExcel for Kids e ABC of the Web.
Por sua vez, a analista de sistemas finlandesa Linda Liukas escreveu o livro Hello Ruby para apresentar conceitos básicos de codificação a crianças a partir de 4 anos. O objetivo, segundo ela, não é tornar a criança uma programadora, mas sim despertar o interesse pelo tema e desmistificar sua complexidade com exemplos de comandos, sequências e repetições.
Na história, traduzida em 20 línguas, a pequena Ruby perde sua coleção de pedras preciosas e embarca numa aventura para encontrá-las. No caminho, tem a ajuda de um leopardo, androides, uma raposa e um pinguim.
Código de programaçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionJogos e até brincadeiras presenciais podem acostumar alunos à ideia de dizer ao computador o que fazer

Brinquedos e brincadeiras

Robot Turtles é um jogo de tabuleiro tradicional em que a criança atua como um programador - o adulto é o computador. As tartarugas devem coletar pedras preciosas seguindo uma sequência de instruções. Sem perceber, elas vão aprendendo sobre sequências, loops, condições e algoritmos, conceitos básicos da programação. Indicado a partir dos 3 anos.
Já o Baby Codipeia, um brinquedo indicado a partir dos 3 anos, consiste em uma centopeia interativa em que cada segmento tem um comando de movimento - a criança pode criar sequências e determinar metas.
No Ozobot, um robô do tamanho de um bombom segue as linhas desenhadas pela criança em um papel e interpreta cada cor. Assim, são dados, por exemplo, comandos de velocidade e direção. Também é possível criar jogos e estipular objetivos. O brinquedo, que já recebeu vários prêmios, é indicado para maiores de 6 anos.

Cursos

Em diversos países estão sendo inauguradas escolas que prometem ensinar crianças em idade escolar a codificar.
No Brasil, SuperGeeks, MadCode, CtrlPlay, Code4All e Happy Code são algumas das franquias que apostam no nicho. Muitas usam jogos já populares como Minecraft e Roblox para chamar a atenção de meninos e meninas.
"Nossa proposta é mais do que programação, é ser uma escola das habilidades da nova economia do século 21, isto é, incentivar raciocínio lógico, trabalho em equipe, resolução de problemas, empreendedorismo e criatividade", comenta Alexandre Jacobs, sócio da Happy Code, no Rio de Janeiro, que oferece cursos para crianças acima dos 6 anos.
A franquia conta com 77 unidades no país e um total de 3,5 mil alunos. A meta é chegar a 150 filiais no ano que vem.

Sites

Quem não quiser pagar um curso, pode buscar sites que oferecem plataformas gratuitas, como Hour of Code, Code.org, Pivot Animator e Scratch, do MIT, que permite ao usuário criar animações e jogos usando uma linguagem com blocos similares a Legos.
O Scratch já foi traduzido em 50 línguas, contabiliza 200 milhões de visitantes únicos por ano e deu origem ao ScratchJr para iPad.
Há também alguns sites direcionados às meninas, como Girls who Code, Black Girls Code e Made with Code, do Google.
Quase todos usam cores, personagens, elementos de jogos com interfaces simples de usar.

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