Comer insetos pode ser gostoso? Se depender do paladar suíço, a resposta é sim.
Produtos à base desses animais vêm se tornando um sucesso de vendas desde que foram lançados, em agosto passado.
Hambúrgueres e almôndegas produzidos com farinha de verme moído têm atraído tanta atenção dos consumidores que a procura desencadeou o desenvolvimento de novos petiscos com esse tipo de fonte proteica. Uma barrinha energética feita com grilos crocantes, passas e tâmaras é a nova moda, por exemplo.
A receita não chega a ser complicada. Insetos cultivados em criadouros higienizados na Suíça, Áustria e Bélgica são moídos e transformados em uma farinha. O pó, que é rico em proteína, é acrescentado em uma massa com outros ingredientes - como purê de grãos e temperos - e moldada no formato de uma carne de hambúrguer e almôndega.
A fabricante dos produtos à base de insetos argumenta que os alimentos são gostosos, saudáveis e sustentáveis. O supermercado que comercializa os itens está bem satisfeito com as vendas - a publicidade que os ingredientes inusitados geram que tem se mostrado muito boa para os negócios.
Defendendo o conceito de sustentabilidade no consumo, a marca mira nos jovens e capricha na aparência moderninha com uma divulgação gourmet, direcionada ao público hipster.
"O que queremos é abrir um novo mundo de possibilidades culinárias para nossos consumidores e convencê-los de que insetos são realmente deliciosos. Estamos cientes de que pode levar um tempo até as pessoas começarem a consumir insetos diariamente, mas estamos trabalhando por isso, todos os dias", afirmou Melchior Füglistaller, representante da empresa Essento, fabricante dos produtos.
"Estamos convencidos de que temos na Suíça consumidores que são amantes da boa comida, que têm uma mente aberta e provarão e gostarão dos produtos feitos com insetos. Não apenas por ser uma alternativa à carne, mas por razões culinárias mesmo", disse Andrea Bergman, representante da rede de supermercados Coop, à BBC Brasil.
Tabu e sustentabilidade
Populares na Ásia, os insetos são ainda geralmente um tabu na cozinha ocidental, apesar de serem ricos em proteínas e outros nutrientes.
A vantagem de incluí-los na dieta é o fato de serem relativamente baratos em comparação às carnes de gado, suína e de frango. Boa parte do marketing de promoção desses alimentos está focado justamente no argumento de que é "verde", e portanto bacana, consumir insetos.
"O consumo de carne demanda muitos recursos", afirma Melchior Füglistaller, representante da empresa Essento, fabricante dos produtos.
"Por exemplo, para se produzir um quilo de carne são necessários 15 mil litros de água e dez vezes mais ração do que seria necessário para alimentar insetos que produzissem a mesma quantidade de proteínas", argumenta.
Certamente o peso da carne no bolso influenciará a decisão dos suíços. Se um quilo de carne bovina moída e temperada para hambúrguer sai por 58 francos (R$ 190), no mesmo supermercado a apenas um corredor de distância é possível comprar o hambúrguer de inseto já embalado em porções de 170 gramas pelo preço de 52,60 francos (R$ 170) o quilo.
Ou seja, o consumo de "carne de inseto" se traduz em uma economia de cerca de 11% para o bolso do consumidor.
Peso no bolso
Os hambúrgueres alternativos são também uma resposta ao padrão de consumo alto e "insustentável" dos suíços.
A nação dos Alpes é uma das maiores consumidoras de carnes per capita no território da Europa. De acordo com um ranking organizado pela empresa de consultoria americana de alimentação Caterwings, a Suíça é o mercado onde a carne é a mais cara do mundo.
O preço médio do quilo de carne bovina está avaliado em US$ 49,68 (R$ 160).
De acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o padrão de consumo dos suíços é insustentável.
Em um relatório publicado em novembro, o secretário geral da organização, Angel Gurría, criticou os hábitos dos consumidores.
"A Suíça tem uma enorme pegada de carbono associada ao seu padrão insustentável de consumo. O consumo suíço está impondo significativa pressão (no meio ambiente) para muito além de suas fronteiras", escreveu.
O próprio país reconhece isso. Um relatório publicado pelo governo em junho passado apontou que os suíços precisam mudar seus hábitos alimentares em relação às carnes.
"Carnes: Nós consumimos 3 vezes mais que o necessário", afirma o documento assinado pelo líder Alain Berset.
Os suíços consomem na média 150 gramas de proteínas de diversas fontes a cada dia.
A consumidora Danielle Heer considera boa a ideia de promover a sustentabilidade, mas não deu uma nota alta ao sabor dos produtos à base de insetos. "Achei as barrinhas um pouco secas", avaliou.
Reportagem: Marina Wentzel, da Basileia (Suíça) para a BBC Brasil
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